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O lobo cinzento.

 Um navio esburacado ancorou em meu rio, esatava de noite e mal conseguia enxergá-lo sob a luz da lua, sua cor era tão escura quanto o céu noturno. Me aproximei lentamente, curiosa com o visitante, minha ilha era solitária, moravam eu e o ancião coelho, quem estava preso numa onda de auto-isolamento, de onde eu estava não era possível ver quem navegava por tamanha carcaça de madeira, então sentei ao pé de uma árvore e esperei. Eu não sabia o que esperava, mas tinha a sensação de que estar ali poderia me dar algumas respostas. O navio me lembrava o passado e rever algo tão querido era reconfortante, me abastava de sentimentos bons e por alguns instantes eu não estava mais buscando saber quem desceria de lá, mas me aconchegava nas sombras pensando que um dia, quem sabe, meu pirata fosse retornar. Os sonhos estavam quase me encantando quando senti uma respiração ofegante bater em direção de meu rosto, era quente e o cheiro não agradava ninguém. Abri os olhos receosa e o arrependimento...

A prisão do teu amor

 é algo que corrói minh'alma, estou enlaçada nas tuas palavras insensíveis  pensando nas dores que eu passaria ao digerir tantas letras apodrecidas. Teu amor é um dos mais desgraçados, que tanto machuca e serve de remendo para os sentimentos vazios, os toques formam memórias fantasmas em meu corpo com o tempo passando e não me sobra mais nada além das sensações de ter sido invadida por alguém que eu permiti tocar nas águas do desejo. A prisão do teu amor é algo que desalinha meus sentimentos e coloca meu peito para chorar no colo de uma mãe ausente, ela pede que eu entregue para ti não somente meu coração como todos meus bens mais preciosos reúnidos com o tempo e dentre todas essas coisas estavam escondidos os dons de um artista amante da vida, ela leva tudo que tenho e deixa somente a poeira das caixas esqucidasque cheiram aos fragmentos das memórias e com isso eu tento reunir peça por peça na vontade de encaixar o céu novamente. A prisão do teu amor impediu com que eu fosse ...

A esposa de Deus.

 Uma roseira floresce em meu corpo, seus espinhos perfuram meus orgãos e as pétalas correm pelo meu sangue traçando caminhos diversos. Quando fecho os olhos estou sendo abraçada por esse mar de rosas, encoberta por um macio desonesto e Ishtar segura minha mão como se dissesse que não há mais o que temer, pois ela estará me guiando ao anoitecer nos sonhos pertubados, os pesadelos quais eu enfrentava não mais apareciam até que por insistência de meus pais precisei comparecer á igreja (evangélica, o que é ainda pior, a mentira cristã que reside em seus fiéis é destrutiva para qualquer um e a ganância deles causaria inveja até mesmo em Mammon , o príncipe.) e ao dormir fiquei diante desse ser que retém informações dívinas para si mesmo, um padre católico no auge de sua juventude buscando saber o que há de tão errado na mente de uma garota rebelde.  Como se eu fosse uma noviça passando por provações encarei um interrogatório intenso, tive minha mente invadida por alguém que eu seq...

Augustus, quem um dia não foi meu,

Escrevo-te em desespero profundo, o fim se aproxima de nós e pouco me resta para lhe dizer algo, estou em desespero para que essas palavras cheguem aos teus ouvidos uma última vez. Estarei partindo em breve, para os céus e além das estrelas, onde não pode mais me ver e creio que de mim não restará mais nada além dessa pequena carta sincera (recheada pelos temores radicalmente intensivos, dos quais destroem esse peito de dentro para fora). Gostaria de ter sido algo para ti durante a vida tão curta, é pouco o que fiz e eu poderia ter feito o mundo inteiro por teu coração desgraçado, não o fiz e não farei coisa alguma que o faça entender esses sentimentos emaranhados dentro de mim. Compartilhamos dores inteiras, entendemos o silêncio um do outros e caminhamos sem dizer nem mesmo uma palavra ainda que a noite caísse sobre nossos ombros de forma pesada, assim rimos com o que se passou entre nós. O grande vazio de um coração ferido não pode ser preenchido tão aceleradamente, cai nos teus br...

Ao meu pirata aventureiro,

 Tenho coisas a lhe dizer que não me baixa coragem alguma! Na verdade, estou presa no passado e tudo que faço é andar em circulos constantes. Mais ou menos como se eu estivesse num circuito fechado sem nenhuma expectativa de fuga, não gosto disso e até mesmo pensei em maneiras de fugir, no entanto, não consigo mover um milímetro sequer para o lado. É como se algo estivesse enraizado em meus pés, firmando minha presença nessa terra para que eu não os deixe de forma alguma. Lembro-me de te dizer coisas parecidas com isso desde muito tempo, quando ainda estava aqui conosco, me convidou tantas vezes para ir contigo às estrelas que por algum tempo pensei em aceitar esse chamado astral fora de órbita e, como sabe, ainda estou aqui te escrevendo meus pensamentos irritantes. Quando fecho os olhos tenho a impressão de estar revendo nossos dias e isso machuca minh'alma profundamente, estou de frente as memórias mais importantes e sofridas... Dormir é um desafio constante, tua voz invade meus...

Ao meu eterno pirata,

 Dedico estas solenes palavras como um pequeno soneto melódico em resposta á minha saudade revigorante, os dias tem sido lentos sem ti por aqui conosco. Algumas flores cantam em teu nome ao amanhecer, pois reconhecem teu estrondoso barco repuxando as nuvens e decorando nosso céu com tuas cadentes estrelas-mães, todos clamamos por teu retorno, principalmente eu (ainda que eu não queira admitir tal coisa). Poucas são as noites que o teu vazio não se faça presente em nossa ilheta, confeitar tortas de carambola sem que algum dedo intrometido aparecesse de repente em minha janela. Não posso esperar para saber de tuas aventuras por esses lados da maré e, creio eu, que elas sejam as das mais intensas! Lembro-me bem das tuas histórias, eu nunca soube se elas vinham de teus livros, ou das rodas que os antigos coelhos montavam em torno das fogueiras enquanto acendiam teus pesados cachimbos. Nunca estive por essas confraternizações calorosas, a fumaça insistente grudariam por meus bigodes e, ...

Querido alguém,

 Escrevo-te como súplica para que recolha minhas angústias! Estou, hoje, em delírio constante, sem saber onde colocar meus pés. Ando lendo todos os tipos de palavras que se apresentarem aos meus olhos, como a boa devoradora de frases que sou, mas nada me satisfaz. A fome pelo inexistente corrompe minh'alma e não encontro o sabor derradeiro nem mesmo nos mais infames textos publicados, ao que lhe envio esta carta escrita em uma pausa cansada dessa longa leitura que está sendo Lolita. Como posso dizer isso? Não sei bem com o que estou lidando, nem que tipo de criação tenho em minhas mãos, mas algo assombra os meus pensamentos enquanto cada palavra se forma, percorro os parágrafos mais cruéis deste local e, Santo Cristo, não entendo o cérebro de Nabokov, é atormentador. Uma das poucas coisas que me orgulho é não soltar até que tenha terminado, mas sinto que em breve deixarei essas páginas fugirem para longe, bem longe! Portanto, meu caro, peço-lhe um pouco de continuidade. Para que eu...