Ao meu pirata aventureiro,

 Tenho coisas a lhe dizer que não me baixa coragem alguma! Na verdade, estou presa no passado e tudo que faço é andar em circulos constantes. Mais ou menos como se eu estivesse num circuito fechado sem nenhuma expectativa de fuga, não gosto disso e até mesmo pensei em maneiras de fugir, no entanto, não consigo mover um milímetro sequer para o lado. É como se algo estivesse enraizado em meus pés, firmando minha presença nessa terra para que eu não os deixe de forma alguma. Lembro-me de te dizer coisas parecidas com isso desde muito tempo, quando ainda estava aqui conosco, me convidou tantas vezes para ir contigo às estrelas que por algum tempo pensei em aceitar esse chamado astral fora de órbita e, como sabe, ainda estou aqui te escrevendo meus pensamentos irritantes. Quando fecho os olhos tenho a impressão de estar revendo nossos dias e isso machuca minh'alma profundamente, estou de frente as memórias mais importantes e sofridas... Dormir é um desafio constante, tua voz invade meus sonhos e a sensação de vê-lo no canto dos olhos assombra minhas noites, somente minhas (de mais ninguém).

Me perdi, me encontrei e me perdi outra vez. Deixei que as borboletas fugissem de meu borboletário e as flores caíssem do herbário, não corri atrás delas, fiquei parada. Observando aquele voo simpático direto ao sol eterno, enquanto as mortas viravam poeira debaixo dos meus pés (acho que pisei nelas sem querer, me distrai com o bater das asas e não recolhi as flores). Queria poder perguntar mais uma vez se lembra quem eu sou, se lembra de meu nome, pois eu também o esqueci. Só tenho certeza de meu coração, que se calcifica dia após dia em saudades da tua presença, não quero ser egoísta em pedir que volte para nos ver, mas confesso ter esse desejo. Não sei quantas vezes repito isso, para que volte e volte e volte. Levou contigo tudo o que eu tinha, me deixou o absoluto vazio escuro, por isso choro todas as noites quando vejo alguma estrela cruzar essa janela dando risadas aos ventos, todas sabem muito bem do que me escondo e gostam de gargalhar gostosas caçoadas. Ao menos, se não puder voltar, devolva meu bom sono e os sonhos que escondi nos teus bolsos.

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