Ao meu eterno pirata,
Dedico estas solenes palavras como um pequeno soneto melódico em resposta á minha saudade revigorante, os dias tem sido lentos sem ti por aqui conosco. Algumas flores cantam em teu nome ao amanhecer, pois reconhecem teu estrondoso barco repuxando as nuvens e decorando nosso céu com tuas cadentes estrelas-mães, todos clamamos por teu retorno, principalmente eu (ainda que eu não queira admitir tal coisa). Poucas são as noites que o teu vazio não se faça presente em nossa ilheta, confeitar tortas de carambola sem que algum dedo intrometido aparecesse de repente em minha janela. Não posso esperar para saber de tuas aventuras por esses lados da maré e, creio eu, que elas sejam as das mais intensas!
Lembro-me bem das tuas histórias, eu nunca soube se elas vinham de teus livros, ou das rodas que os antigos coelhos montavam em torno das fogueiras enquanto acendiam teus pesados cachimbos. Nunca estive por essas confraternizações calorosas, a fumaça insistente grudariam por meus bigodes e, por mais que eu adore o cheiro de ervas, isso não seria uma situação agradável! Eu não saberia mais identificar se uma flor chorasse nem se lavasse minha fuça cinco vezes, no entanto... Eu gostava de sentar ao teu lado, cruzados por aquele riacho, e ouvi-lo contar sobre o que nossos anciões recitavam. Desde sua partida não tive a oportunidade de ouvir sobre novamente, algumas lebres passam por minhas margens e trazem consigo cumprimentos, sempre espero que em patas sujas tenham algo teu. Uma carta, fotografia, eu não sei. Não sei o que esperar de ti.
Partiu cedo, sem deixar nem mesmo um adeus para trás. Isso me parte o coração, tem dias que me recosto em nossa macieira e suspiro cansado, há um espaço que não pode ser preenchido por outro alguém, dentre os cogumelos, cristais e flores, a tua presença ainda se faz visível, o rastro de seus grandes pés e rabo felpudo gostam de se aparecer com a luz do sol. Volte logo, meu querido! Envie para nós uma lembrança sua e torne esse vazio um pouco mais tolerável, estamos amargando no desespero mais puro, com a falta de um riso carinhoso. Não há mais o que se fazer por aqui além de chorar aos cantos recolhendo frutas e acarinhando nossas flores desoladas, a tua vibração percorre por meus sentidos, escuto de onde eu estiver os teus cantos.
Desejando tê-lo ao meu lado outro entardecer.
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