Augustus, quem um dia não foi meu,

Escrevo-te em desespero profundo, o fim se aproxima de nós e pouco me resta para lhe dizer algo, estou em desespero para que essas palavras cheguem aos teus ouvidos uma última vez. Estarei partindo em breve, para os céus e além das estrelas, onde não pode mais me ver e creio que de mim não restará mais nada além dessa pequena carta sincera (recheada pelos temores radicalmente intensivos, dos quais destroem esse peito de dentro para fora). Gostaria de ter sido algo para ti durante a vida tão curta, é pouco o que fiz e eu poderia ter feito o mundo inteiro por teu coração desgraçado, não o fiz e não farei coisa alguma que o faça entender esses sentimentos emaranhados dentro de mim. Compartilhamos dores inteiras, entendemos o silêncio um do outros e caminhamos sem dizer nem mesmo uma palavra ainda que a noite caísse sobre nossos ombros de forma pesada, assim rimos com o que se passou entre nós. O grande vazio de um coração ferido não pode ser preenchido tão aceleradamente, cai nos teus braços faminta por algo que tu não me ofereceria nem se conseguisse e alimentei a mim mesma desse algo irreal — eu o criei, moldei e cuidei para que não morresse por desamor. Como eu queria lhe dizer essas coisas em frente ao teu rosto, como eu queria poder vomitar o meu coração nas tuas mãos para que ele lhe servisse de sacrifício e parasse de me amaldiçoar pelo resto da minha vida! Sou presa aos teus feitiços e não há deus que me salve dessas risadas demoníacas tão impregnadas no meu corpo, se eu deito para dormir é teu rosto que invade meus sonhos ou, então, se me encontro com outro alguém é tua voz que toma meus ouvidos e impede que ouça aquilo que a pessoa tem para me dizer. Marcaste teu nome no meu peito e gravou nossa sepultura uma ao lado da outra, para que na eternidade fôssemos enterrados dando o nó as tuas crueldades e aos meus sofrimentos, por isso rezo como nunca havia rezado antes sem saber se esse deus pode me ajudar ao certo. Tudo o que fiz para te tirar da minha mente eu assumo, coloquei teu nome em encruzilhadas e esfaqueei até o fim as inocentes vidas passadas, deleitando-me com aquele pudor degenerado da ruindade. Nada se fez suficiente e até o presente momento continuo enfraquecida. Por isso me escondo, me acovardei sem vergonha de estar dando para trás nesse tiroteio incessante. Coloquei-me em linha de risco por tua piedade, transcrevi os meus pecados como contos poéticos e os recitei em frente aos padres, enganei todos para que obtivesse a certeza de que meu coração é eternamente teu. Dei as mãos e troquei juras de amor com seu rosto no lugar dessas pobres almas. Entenda que não serei capaz de esquecer-te em vida alguma, voltarei para procurá-lo e sinto-me em dívida com teu amor indescritível, por saber que este nunca será meu que tanto o desejo. 

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